Os trilhos do trem cortavam a cidade e as máquinas acordavam os moradores antes mesmo dos primeiros raios de sol. Apesar disso, a vida era calma por ali. Os trilhos do trem cortavam a cidade e as pessoas tinham que conviver com o barulho das locomotivas puxando os vagões durante boa parte do dia. Apesar disso, a vida era calma por ali. Os trilhos do trem cortavam a cidade e as pessoas se habituaram à poluição da fábrica de cimento que, em parte, era a razão pela qual os trilhos cortavam a cidade...
Os trilhos do trem cortavam a cidade e, vez ou outra, um adolescente de bicicleta, ou correndo atrás de uma bola ou de uma pipa tinha seu trágico fim quando seu corpo frágil ia de encontro às máquinas pesadas que se arrastavam pelos trilhos.
Apesar dos apitos das locomotivas, do barulho dos vagões sendo puxados, da poluição da fábrica e das mortes ocasionais, a vida era calma por ali.
Naquela segunda-feira, a vida começou calma como sempre: a locomotiva passou apitando pela fábrica, mas não parou. Sua rota hoje não incluía o cimento produzido na cidade. Passou direto puxando seus vinte vagões pesadíssimos, carregados de ferro. Passou direto.
Passou.
Direto.
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